Tuesday, February 19, 2013

Nordeste na Europa

 

Tenho uma queda por pioneirismo, gosto de escrever sobre o assunto, e detectar pioneiros e fazer justiça aos mesmos.

Hoje em dia não choca muito falar sobre pilotos nordestinos ou nortistas com destaque no automobilismo. Entre outras coisas, o amazonense Antonio Pizzonia já chegou a liderar um GP, o bom baiano Tony Kanaan é um top driver da IRL, e até o Pará já esteve representado na F-3000, com Marcos Gueiros. No Brasil, o paraibano Valdeno Brito é um dos principais pilotos da Stock Car, que também tem pilotos do Ceará e Pernambuco.

Nos anos 60 e 70, os poucos pilotos brasileiros que se aventuravam ao exterior eram procedentes de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Brasília. Começava o bem sucedido avanço dos brasileiros no automobilismo internacional. Na época, o automobilismo nordestino se resumia ao Torneio Norte Nordeste, disputado por Fuscas no autódromo Virgilio Tavora em Fortaleza, e quase nunca incluído no calendário brasileiro. E os nordestinos não corriam no sul.


Assim, causou certa surpresa o Team Brasil que se empenhou em participar do campeonato inglês de Formula 3 de 1974, com dois irmãos do Piaui, Marcos Moraes e Luis Moraes. O carro era até patrocinado pelo governo do Piauí, mais especificamente pela empresa responsável pelo turismo no estado. Uma façanha conseguir esta verba. Trabalhei na Embratur entre 1982 e 1985 e sei que as verbas das agências estaduais de turismo eram mínimas. E põe mínimo nisso. Bem, isso não vem ao caso, e duvido que alguém tenha visitado o Piauí por ter visto o patrocínio nos carros dos Moraes. Melhor assim, pois em 1974 o estado não tinha a mínima infraestrutura turística para receber estrangeiros.

Não que o automobilismo de pista do Piauí fosse pujante. Não existia, e não existe até hoje. Os irmãos eram radicados no Rio, donos da Speed Motors, de fato Luis ganhou uma prova com um Porsche 910 em 1971. Assim que a maioria das referências aos mesmos os indica como cariocas. Marcos correu mais do que Luis Carlos.

Era uma excelente oportunidades para fazer boa figura na F-3, pois algumas provas não tinham nem dez carros no grid, e a grande maioria dos pilotos era de péssima qualidade. Houve até um indiano na jogada, Hany Wiano, algo muito raro no automobilismo de 1974, e um uruguaio, outra raridade, Pedro Passadore. Mas infelizmente o grande contingente brasileiro não aproveitou a deixa, e só Alex Dias Ribeiro ganhou corridas. José Pedro Chateaubriand correu na equipe oficial da March, mas não chegou ao topo do pódio e voltou ao Brasil botando muita banca.

No caso dos Moraes, o GRD não era lá essas coisas, de fato, a fábrica não passou daquele ano. Marcos não era muito experiente, e a temporada não foi frutífera. Julio Caio, de São Paulo, fez algumas corridas para substitutir os irmãos (e trazer algum patrocínio a mais), sem muito sucesso, e voltou encantando com a Formula Atlantic, dizendo que voltaria à Europa no ano seguinte. Nunca voltou. O melhor resultado foi um quarto, de Luis, e após algumas desavenças o Team Brasil e o Piauí se afastaram do automobilismo para sempre.

Assim chegavam os nordestinos nas pistas européias, que seja através do Rio de Janeiro.

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